12/02/2017

EXPEDIÇÃO LAGOA DOS PATOS 360º - ANO 2 - COMO FOI?

O medo de andar solito, ouvindo vozes e gritos
E até do barco um apito na sua imaginação
Os olhos esbugalhados, do moleque assustado
Olhando aquele mar bravo
...
Coqueiro e figueira dos matos
E a bela Lagoa dos Patos, ó verdadeiro tesouro
Lago Verde e Azul que na América do Sul
Deus botou pra bebedouro
...
E entre outros animais, no meio dos juncais
Surgiam patos baguais que hoje não se vê mais
Este símbolo da aguada
...
E hoje eu volto ali, no lugar que eu vivi
Onde nasci quando guri, me olho lagoa em ti
E me enxergo chorando

(Lago Verde Azul - Osvaldir e Carlos Magrão)

E assim foi nossa expedição:

Dia 1 (12/01/2017): Terminamos a Remada S.O.S. Rio Camaquã no dia anterior. Logo que chegamos em Pelotas, deixamos todo o material possível na Guarderia Prowind, pois sairíamos, Alexandre e eu, no outro dia pela manhã. Foi uma boa noite de descanso, permitindo tomar um bom banho, dormir e jantar bem, e principalmente ajustar algumas coisas para dar continuidade a remada...

No outro dia, pela manhã, Alexandre e eu nos encontramos no trapiche do Laranjal. A lagoa estava bem calma. Arrumamos nossas coisas e fomos em direção a cidade de Rio Grande. Fizemos uma parada na Ilha da Torotama para alimentação. Algum tempo depois, paramos também na Ilha dos Marinheiros e lá conversamos com 2 pescadores, o seu Jaci, construtor de barcos e morador da ilha e o seu Vladimir, pescador e, também, morador da ilha (como ele mesmo falou: Meu nome é Vladimir, bem, na verdade meu nome é Rodolfo,mas gosto que me chamem de Vladimir!). Depois de um bom papo, seguimos remando.







Fizemos uma breve remada até o centro da cidade de Rio Grande para fazer algumas fotos, mas com o vento nordeste foi complicado chegar muito perto dos paredões, pois as ondas que batiam e voltavam complicavam a situação. Nos afastamos do centro e fomos em direção a Ilha da Casa da Pólvora. Cedo da tarde já estávamos na Windplace, sendo bem recebidos pelo seu Darci e Fabian Saavedra (Castilha).
No final da tarde, o Dieismy e sua namorada passaram lá para bater um papo. Logo depois chegou também o Maurício Ortiz, do grupo de canoagem Guerreiros do Remo. Ficamos lá conversando até o sol se apagar no horizonte. Valeu pela visita gurizada. Sempre é bom bater um papo com os amigos... Dormimos dentro da Windplace, sem precisar montar as barracas. Obrigado Windplace por nos abrigar nessa jornada.


Foram 36 km remados.

Dia 2 (13/01/2017): No outro dia, acordamos cedo e fomos num mercadinho próximo comprar algumas coisas (frutas e alguns alimentos). Depois, partimos em direção a Ponta do Retiro. Não foi nada fácil passar pelo canal de navegação, é sempre um momento de atenção redobrada. Fomos pelo trajeto sugerido pelo amigos da Windplace, por ser um trajeto com águas menos profundas e com menos tempo de exposição ao vento. Mesmo assim, a correnteza estava forte no canal e as ondas também cresceram um pouco lá no meio. Chegamos na Ponta do Retiro e lá fizemos uma pausa para tirar algumas fotos, pois aquelas dunas de areia são realmente bonitas.











Miramos nas Capivaras, atravessando o Saco do Mendanha, passamos ao lado de uma ilhota de juncos (Ilha dos Ovos) que fica bem no meio do caminho (da outra vez eu não tinha conseguido ver esta ilha). Depois de um descanso nas Capivaras, começamos a contornar a Ponta Rasa, passamos a Várzea e logo procuramos um local para acampar. Foi exatamente o mesmo local de 2015.







Foram 33 km remados.

Dia 3 (14/01/2017)O Alexandre estava empolgado com a ideia de almoçar bem. Então nossa meta era chegar no Restaurante Beira da Lagoa para fazer um bom almoço. Chegamos lá e o restaurante estava lotado (verão, alta temporada, comida boa). O Alexandre logo fez nosso pedido e ficamos lá de papo e descansando... Veio um pessoal saber de onde a gente vinha, pra onde ia, essas coisas... Depois de um almoço, pedimos para embrulhar o que sobrou pra janta (marmita da janta) e fomos remar... Antes de sair, reabastecemos a água no poço que existe ao lado do restaurante.







Fizemos uma travessia quase reta para a Ponta dos Lençóis. No meio do trajeto o vento de través (creio ser um vento leste) começou a ficar mais forte e criar ondas maiores. Foram 2 horas para fazer a travessia do Saco do Rincão. Chegamos no lado de fora da Ponta dos Lençóis e continuamos remando... Logo que encontramos um bom lugar fizemos nossa parada para acampar, num local chamado Estreito (por ser o menor trecho de terra entre a lagoa e o mar). No início da noite o Alexandre escutou barulhos de pessoas, mas não vimos nada... Falei pro Alexandre que parecia o som de um Graxaim. No outro dia pela manhã ele encontrou algumas pegadas... Remamos uns 37 km neste dia.









Foram 37 km remados.

Dia 4 (15/01/2017): Acordamos cedo, preocupados com a chuva que estava chegando. Antes das 8 horas (mais precisamente as 7:45) já estávamos na água. Fizemos 4 horas de remo pela manhã. A paisagem não era das melhores, só juncal na beira da lagoa. Cabe aqui salientar que os juncos são muito importantes na preservação das margens. Quando não existe o junco, a água começa a invadir a terra, derrubando árvores e tudo mais, como é possível observar bem no Bojuru e na Ilha da Feitoria.

No meio da tarde chegamos na Barra Falsa do Bojuru. Tivemos que entrar bastante para fazer uma travessia segura. Acabamos o dia na frente das ruínas do Farol do Bojuru. O vento nordeste soprou forte o dia todo. O Alexandre preparou a janta: arroz, linguiça e milho. Estava muito bom... Estávamos cansados e fomos dormir. No meio da noite reparei que o céu estava muito estrelado.






Foram 45 km remados.

Dia 5 (16/01/2017): Acordei com a lagoa e o vento gritando forte, era o nordestão soprando... Com aquele vento ficamos no acampamento até as 15 horas. O desânimo bateu... Pelo menos, nesse tempo inventamos várias coisas para fazer no acampamento, pois ainda não sabíamos se iríamos remar ou não naquele dia. Fiz mesa e cadeira com madeiras deixadas por pescadores. Alexandre fez fogo com a pederneira.



Pelas 15 horas decidimos partir... O "mar" estava agitado, com ondas bem grandes. Eu fui remando pelo fundo (menos ondas quebrando) e o Alexandre mais costeiro. As ondas sempre nos jogavam para a areia. Mesmo tentando ficar longe, acabávamos sempre voltando para a costa... Perdi a garrafa de água quando uma onda bateu forte no caiaque e acabei atracando para tentar achá-la (me bateu aquele sentimento de culpa por deixar lixo na natureza). Achei a garrafa uns 100 metros pra trás, chegando na terra.

Seguimos em frente. Estávamos tentando achar a casa do Marleu para fazer contato telefônico... Nunca encontramos. A paisagem por lá muda muito por causa do corte das plantações de Pinus. As ondas diminuíram ao final da tarde. Levei a câmera do Alexandre no meu day-hatch para maior segurança do equipamento.

Remamos até as 20:10. Depois paramos, montamos acampamento e já era hora de jantar: massa, salsicha, linguiça e queijo. A chuva logo nos correu para dentro das barracas. Estava com dor de garganta, usando própolis para o tratamento. Pensando dentro da barraca vi que somos muito imediatistas, não conseguimos aguardar as coisas, esperar o vento passar. As vezes precisamos aguardar o vento acalmar para levantar vela com segurança. Como é difícil ficar parado quando queremos ir para frente... Como lidar com isso? Neste dia, andamos pouco mais de 15 km.

Na noite me assustei ao ver algumas luzes... Inicialmente achei que alguém estava apontando uma lanterna para minha barraca... Depois, pensando bem, acho que foi uma mistura de alguns raios com um vaga-lume que pousou na lona da barraca...

 Foram 15 km remados.

Dia 6 (17/01/2017)Acordamos e arrumamos os caiaques. Quase na hora de sair começou a chuva novamente. Com a moral da tropa em baixa, pelo fraco desempenho do dia anterior, acabamos voltando para dentro da única barraca ainda montada, a do Alexandre. Depois de um tempo saímos para tentar telefonar. Conseguimos sinal de celular de cima do morrinho. Decidimos remar mesmo com muitos carneiros na lagoa.


No local de saída, quando estávamos arrumando as tralhar nos barcos, passou o senhor Pedro Saraiva procurando suas vacas de leite que haviam se perdido... A sua voz e jeito calmo de falar parece que acalmaram um pouco a lagoa.

Saímos remando e logo paramos novamente para arrumar o leme do barco do Alexandre. Paramos na frente da casa do senhor Daniel (vizinho do senhor Pedro), que logo veio nos oferecer ajuda, ferramentas, essas coisas... Ficamos um tempo ali batendo papo... Depois remamos até o Pier Brum. O Alexandre achou um caminho entre os bancos de areia. Eu remava mais no fundo, depois do último banco.




Paramos 200 metros antes do Farol Capão da Marca, pois se iniciava uma tempestade e também pois lá era o lugar com menor distância entre a lagoa e as árvores, ou seja, menos esforço carregando os caiaques para perto do acampamento (que falta faz um carrinho para carregar os caiaques né Alexandre Goularte).



Logo arrumamos o acampamento embaixo de uma árvore. Depois de tudo pronto, fomos tirar fotos do final de tarde: normalmente depois de uma tempestade o final de tarde sempre é lindo...




















Mais tarde jantamos arroz, frango e queijo. Depois fomos no farol novamente fazer algumas fotos noturnas... Acho que essa foi uma das partes mais divertidas da remada... Ficamos lá, no meio do nada, fazendo jogo de luzes no farol para tirar algumas fotos com longa exposição... Quase fizemos o farol funcionar... Estava nota 10... Veio na minha cabeça a vontade de continuar a remar, mesmo sozinho, mas veio junto o medo também...

(Foto: Alexandre Goularte, com a minha ajuda lá em cima do Farol)

(Foto: Alexandre Goularte, com a minha ajuda lá em cima do Farol)

 Foram 24 km remados.

Dia 7 (18/01/2017): Acordamos e o Alexandre fez tapioca com queijo para o café da manhã. O Alexandre foi o cozinheiro da expedição... Eu o lavador de louças...

Iniciamos o dia e logo na saída encontramos um pai e um filho brincando juntos na beira da lagoa. Era bem no nosso ponto de saída. Fomos conversar. Depois remamos um pouco e as ondas continuavam grandes. Eu queria remar mais ao fundo para não ficar naquela zona ondas as ondas quebram a toda hora. Ao ir para o fundo, entrei de lado em uma onda e capotei. Tentei o rolamento e não deu. Tive que ir até a terra nadando segurando o caiaque e o remo. Tudo bem... Nada demais... Mas vale compartilhar aqui a primeira capotagem do caiaque Egeo. O Alexandre parou para me esperar na areia.



Depois fomos até o Balneário de Tavares. Lá o Alexandre me falou que achava que, pelas condições de vento, não conseguiríamos chegar a tempo na Varzinha e ele iria chamar o resgate ali mesmo. Realmente nos últimos dias o nosso ritmo havia diminuído bastante.

Eu relutei em parar, mas achei prudente não ir sozinho, pois ainda faltavam uns 400km até Pelotas. Sozinho tudo é mais complicado. A remada (fazendo uma analogia com a vida) em dupla nos permite carregar cargas que sozinhos não somos capazes. Além disso, o mais legal de remar é compartilhar esses momentos com os amigos...



Fomos pedir água na casa do seu Eraldo, já que a casa do seu Ismael e da Dona Irma estava fechada. Acabamos levando todo nosso material para o pátio dele, para aguardar o resgate. A turma do Alexandre já estava a caminho de Tavares. Almoçamos com seu Eraldo e sua esposa.

Meu pai não conseguiria me buscar naquele dia. A última balsa de São José do Norte para Rio Grande era as 17 horas. Pedi para acampar no pátio do seu Eraldo e ele permitiu. Logo depois do almoço a turma do Alexandre chegou e levou ele. Eu fiquei lá, conversando com o seu Eraldo e com um outro senhor bem engraçado, o tal Nego. Os dois juntos ficavam de arriação o tempo todo... Fui na praia tomar um banho no final da tarde. Dormi cedo.





 Foram 5 km remados.

Dia 8 (19/01/2017)Não acordei muito cedo, umas 8 horas. A lagoa azeitada, lisa e sem vento (que tristeza me bateu). O vento tinha parado, tanto que a barraca estava molhada de sereno, coisa que não acontece em dias que o vento sopra forte a noite. Meu pai chegou pela hora do almoço. Almoçamos todos juntos novamente. Obrigado seu Eraldo pelos almoços e pela hospedagem... Obrigado pela parceria.

Fui para Pelotas com meu pai. Pegamos a balsa das 16 horas. Foi a primeira vez que andei por aquele lado. Estrada muito boa de Tavares para SJN. Cheguei no apartamento do pai e fomos tomar um mate, conversar sobre a remada. Valeu pelo resgate pai :)




Fim de mais uma remada.

Nos dias que se seguiram pensei bastante em como lidar com o "fracasso" (entre aspas, significando apenas momentos em que o executado não é exatamente igual ao planejado inicialmente). Acabei lembrando que alguém me disse uma vez: devemos tentar sempre, se não der certo, pelo menos temos histórias para contar. E isso temos mesmo. Acabei me lembrando que realmente é a natureza que manda, mesmo que a gente planeje bastante...

No entanto, pensando bem, creio que o mais importante é aproveitar os momentos vividos, as risadas, a parceira, os amigos remando juntos, os novos e os antigos, compreender os nossos medos, aproveitar as chuvas e logo depois o sol. Entender e sentir a força do vento e das ondas... Avaliar as decisões tomadas, as certas e as erradas... Aprender com isso... Aproveitar para conhecer pessoas que nos ajudam e nos fazem ter vontade de ajudar.

Nossa remada foi muito boa, divertida, sem problemas. Com o Alexandre aprendi a importância de fazer uma alimentação melhor (preparar boas jantas e cafés da manhã), fazer fogo com a pederneira, recebi bons conselhos. Exercitamos um pouco a parte de navegação com a bússola que ele levou. Foi uma das melhores remadas que fiz... Valeu pelas lindas fotos tiradas e pela grandiosa parceria em mais uma remada Alexandre Goularte...

Acho que entender e valorizar essas coisas é o mais importante...

Nossos amigos/apoiadores nesta remada: